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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Medicina Alternativa e Complementar (MAC) nas escolas médicas da Áustria, da Alemanha e da Suíça

Pesquisa realizada em 1997 constatou que gestores das escolas médicas alemães eram favoráveis a inclusão da medicina alternativa e complementar (MAC) em seus currículos, no entanto, apenas a minoria das escolas havia incluído em seus currículos. Em novo estudo realizado em 2004, foram enviados questionários a 1017 diretores de escolas de medicina em três países de língua alemã (Alemanha, Áustria e Suíça), representando mais de 80% de todas as escolas médicas de língua alemã, para avaliar as atuais opiniões sobre a inclusão/integração da MAC nas escolas médicas e em que medida essa inclusão ocorreu.
Obteve-se 48% de resposta aos questionários (n = 487), onde 40% demonstraram uma resposta positiva sobre a MAC, 28% foram neutras ou indiferentes, enquanto 29% tinham uma opinião negativa e 3% não tinham opinião sobre o valor terapêutico da MAC. Houve diferença significativa entre os entrevistados alemães e suíços, os primeiros apresentaram 44% de pareceres favoráveis, enquanto os suíços tiveram somente 22% (p = 0,021). Em geral, a acupuntura (53%), a osteopatia (52%) e a naturopatia (38%) foram as categorias de MAC com maior aprovação. Naturopatia e fitoterapia (32% de aprovação) mostraram resposta positiva mais na Alemanha do que na Austria (p = 0,001 e 0,01, respectivamente). Para esse estudo, a naturopatia foi definida como qualquer método terapeutico baseado no vitalismo, excluindo a fitoterapia, a qual foi classificada à parte devido a sua importancia para a população, onde os alemães são consumidores habituais da fitoterapia aliada aos esforços da Comissão E alemã na fiscalização, avaliação e padronização dos fitoterapicos, tornando-a uma terapêutica com muito crédito na comunidade médica alemã. Homeopatia (20%) e medicina chinesa (19%) foram a MAC que apresentaram resultados menos positivos pelos entrevistados.
A maioria é favorável à integração da MAC nas escolas médicas, onde 85% é adepto da sua utilização em pesquisas, 84% recomenda a inclusão nos currículos e 60% favoráveis à introdução da MAC no atendimento clínico das escolas de medicina. Entretanto, apenas 34% disseram que a MAC havia sido introduzida em sua instituição (na pesquisa 19%, ensino, 18% e tratamento, 26%) sem diferenças significativas entre os países, embora os entrevistados tenham indicado os suíços como os que menos introduziram a MAC nas escolas médicas. Em ambas as pesquisas (1997 e 2004), independente da opinião particular sobre a MAC, os diretores das escolas médicas foram favoráveis ao ensino das mesmas.
Ao serem indagados sobre de que modo percebia a MAC, 74% dos entrevistados responderam que complementa o tratamento convencional, 34% a utiliza como tratamento alternativo/complementar, 29% mencionaram a possibilidade de redução dos efeitos colaterais do tratamento convencional e 28% percebia a MAC como um tratamento com placebo, sendo que os austríacos foram os que mais citaram essa opção. Pesquisados sobre os riscos da MAC, os austríacos foram os que mais mencionaram que estas podem atrasar ou dificultar o tratamento convencional (76%), enquanto os alemães e suíços entrevistados estavam mais preocupados (69%) com a má qualidade na formação profissional, motivo de preocupação para apenas 45% dos entrevistados austríacos. A maioria dos entrevistados respondeu que os ensaios clínicos, os estudos experimentais e as pesquisas sobre o efeito placebo são as pesquisas mais importantes para a MAC; eles avaliaram os projetos de pesquisas planejados especificamente para avaliar as MAC e os estudos de casos como "sem importância". Os alemães foram os mais receptivos aos estudos de caso e de projetos planejados especificamente para avaliar a MAC.
Esforços destinados a integrar/incluir a MAC nos currículos médicos difere entre os países pesquisados, bem como no mesmo país. Naturopatia e as bases da homeopatia são estabelecidas para serem abordados nas escolas médicas alemãs desde 2003. No entanto, os autores indicam que nem todas as escolas cumprem essa determinação e os resultados da pesquisa mostram que os diretores das escolas médicas têm uma "opinião ruim" sobre a homeopatia. Na Suíça, a MAC é ensinada em diferentes formatos nas escolas médicas, por exemplo, na Faculdade de Medicina de Berna e de Zurique, todas as palestras sobre a MAC e treinamentos práticos são opcionais. Na Áustria, algumas palestras são obrigatórias, mas o estágio é opcional. A abordagem do paciente de forma interdisciplinar é exigida pela escola de medicina de Viena, enquanto a de Graz somente oferece uma séria de palestras opcionais sobre homeopatia.
Estes resultados contrastam com os de um diagnóstico realizado em 1997, onde de um total de 125 escolas médicas dos EUA, 75 ofereciam algum tipo de educação em MAC. Diagnósticos realizados em outros países europeus, entretanto, tiveram resultados semelhantes, com 40-43% escolas médicas européias que oferecem alguma educação em MAC. Razões para a falta de progresso no ensino de MAC nas escolas médicas da Europa não são claras. Os autores, comparando a situação da Europa com a dos EUA, concluem que a integração bem sucedida da MAC em escolas de medicina exige financiamento adequado, esforço de cooperação, apoio institucional e conteúdo de MAC de forma a interagir em cursos já existentes. Segundo os autores desse estudo, essas condições ainda não existem nas escolas médicas de língua alemã.

Mariann Garner-Wizard


Brinkhaus B, Witt CM, Jena S, Bockelbrink A, Ortiz M, Willich SN. Integration of complementary and alternative medicine into medical schools in Austria, Germany and Switzerland – results of a cross-sectional study. Wien Med Wochenschr. November 16, 2010:1-12. doi:10.1007/s10354-010-0834-x.

sábado, 11 de junho de 2011

Vendas de produtos naturais mantêm o crescimento - até 3,3% em 2010



por Mark Blumenthal; Ashley Lindstrom; Mary Ellen Lynch; Patrick Rea


HerbalGram, 90, p. 64-67, 2011.


  
O mercado de suplementos alimentares[1] à base de plantas (dietary supplement - DS) cresceu nos Estados Unidos em 2010 em relação a 2009, mantendo a tendência de crescimento constante desde 2003, apesar da continuidade das condições econômicas relativamente fracas nos Estados Unidos e no resto do mundo.
Estima-se uma ampliação de 3,3% no comercio de DS, considerando todos os setores que os comercializam nos EUA, segundo o Nutrition Business Journal (NBJ), que, juntamente com a SPINS, uma empresa de pesquisa de mercado especializada em vendas de produtos naturais, colaboraram com a American Botanical Council para produzir este relatório anual para a Revista HerbalGram. Embora a taxa de crescimento seja menor do que a taxa de crescimento de 4,8% registrada em 2008-2009, este aumento mantém a tendência de crescimento positivo para os DS durante os últimos 11 anos (Tabela 1).
No principal canal de comercialização de Alimentos, Medicamentos e Massa (FDM) (farmácias, supermercados, mercado varejistas de massa, e similares, exceto  Wal-Mart), a porcentagem de aumento varia de acordo com a fonte de informações. Segundo o FDM o total de vendas de produtos que apresenta uma única planta aumentou 6,1%, de acordo com a Symphony IRI (Tabela 2), enquanto pela SPINS, um fornecedor líder de informação de mercado (dados não incluídos nas tabelas), calculou um aumento de 4,8%. No entanto, ao contrário dos dados da Symphony IRI, a SPINS inclui produtos que apresentam associação de plantas como ingredientes principais que são representados por determinados produtos (ver quadro abaixo).



Como exemplo da complexidade para se fazer uma pesquisa de mercado deste segmento, a análise da NBJ para o comércio de suplementos alimentares nos principais canais de comercialização (incluindo as estimativas de vendas das principais lojas de conveniência e dos clubes de compradores, tais como Wal-Mart, Sam´s Club, Costco, etc) mostra que as vendas de suplementos alimentares cresceram a uma taxa mais elevada que os relatados pelo Symphony IRI ou pela SPINS, ou seja, um aumento de 6,6%, passando de cerca de US$ 878 milhões em 2009 para 936 milhões dólares em 2010.
Na tabela 3, encontram-se as estimativas de vendas de acordo com a SPINS, a qual diminui em 0,6% e não inclui as vendas realizadas no Whole Foods Markets. Ainda, segundo dados da SPINS houve um aumento de 2% para produtos naturais nas GNC[2] e Whole Foods Market[3] com vendas totais aumentou de cerca de US $ 1,631 bilhões em 2009 para 1,663 bilhões dólares em 2010 (Tabela 4).


O aumento total de vendas de DS também se reflete em outros canais de comércio, por exemplo, o canal de vendas diretas (incluindo a ordem de correio, Internet, MLM [multi-level marketing], etc) onde as vendas cresceram em 2010 por em cerca de 3% de acordo com dados compilados do mercado pela NBJ, de 2,525 bilhões dólares em 2009 para 2,601 bilhões dólares americanos em 2010 (Tabela 4).


Em todos os anos anteriores, desde que a HerbalGram começou a divulgar sobre o comércio de produtos naturais na década de 1990, os dados foram obtidos a partir de relatórios fornecidos pela Information Resources, Inc., uma firma de pesquisa de mercado sediada em Chicago agora conhecida como Symphony IRI. Este ano, pela primeira vez, a Herb Market Report foi também capaz de acessar os dados de vendas da SPINS através da colaboração com a American Botanical Council (ABC). Ambos SPINS e Symphony IRI apresentam tendência ascendente, embora essa tendência varie em grau de magnitude, como observado anteriormente. Novamente, isto ressalta o significativo e permanente desafio de coletar e decifrar as informações de vendas de produtos naturais.
"SPINS é uma empresa focada em atender as necessidades de informação sobre o segmento industrial de produtos naturais e bem-estar (Natural and Health & Wellness Industry) e utiliza uma equipe interna de especialistas em produtos naturais para garantir detalhes na identificação dos produtos de forma a atender essas necessidades" disse Kerry Watson. As informações fornecidas à HerbalGram para uso nesta análise são limitadas aos suplementos botânicos, não refletindo as vendas de alimentos e bebidas.
Um dado interessante é a analise das 20 plantas mais vendidas conforme os dados fornecidos pela Symphony IRI e SPINS. Embora seja compreensível e previsível que a classificação e inclusão de plantas variem de acordo com o canal de comercialização pesquisado, é notável ver "Horehound" (Marrubium vulgare, Lamiaceae) no topo das vendas de suplementos alimentares que apresentam somente essa planta, gerando US$ 68.0 M em vendas em 2010! Isto levanta a questão de saber se a ABC deve considerar a horehound (Marrubium vulgare ) como uma das plantas medicinais mais vendidos nos Estados Unidos, uma declaração que, provavelmente, será recebida com muita curiosidade, se não ceticismo, por muitos veteranos do mercado.
Marrubium vulgare nunca apareceu na lista como um importante suplemento à base de plantas para o mercado em qualquer outro análise anterior (HerbalGram Herb Market Report). Analisando a questão mais detalhadamente, SPINS informa que esta droga vegetal é o ingrediente principal em vários produtos indicados para tosse ou garganta, comercialmente conhecido como Ricola®. De acordo com a SPINS, entre 2008 e 2009 o comércio de horehound, incluindo os produtos Ricola®, os quais têm essa droga vegetal como ingrediente principal e outros produtos que foram identificados como tendo como ativo principal (ou único), mostrou aumento significativo e com tendência de crescimento, ampliando de total de US $ 58,7 M em 2008 e US $ 64.7M em 2009.
Horehound é um conhecido remédio popular para dor de garganta, mas tem tido pouca pesquisa sobre esta planta e a ABC não tem conhecimento de quaisquer ensaios clínicos publicados que comprovem sua eficácia para a tosse ou para aliviar dor de garganta.
É interessante notar a maioria das plantas listadas entre as 20 principais, segundo dados do mercado (Tabela 2), representam as consideradas como remédios tradicionais e alimentos. Há pelo menos 8 alimentos: cranberry, soja, alho, chá verde, gengibre, "bilberry" e de uva e sabugueiro (Sambucus sp.). Enquanto outras 10 plantas podem ser classificadas como alimentos ou fitoterápicos, dependendo de como são classificadas ou usadas, as quais incluem linhaça, trigo ou cevada, cúrcuma, alga espirulina, sabugueiro, açaí, cranberry, alho, clorofila e óleo de orégano (Tabela 3). A popularidade das plantas que tem indicação/função nutricional é devido ao fato de que muitas são populares/tradicionais e tem sido usada a milênios como alimentos ou especiarias (por exemplo, gengibre, alho, orégano, cúrcuma). Nota: Em alguns países asiáticos, por exemplo, a China e a Coréia cultivam e exportam a raiz de ginseng, a qual aparece anualmente como um importante produto de comercialização, entretanto não no canal de produtos naturais ou com finalidades terapêuticas, sendo freqüentemente consumido como alimento ou como bebida por milhões de pessoas.)
Além disso, no topo do ranking de vendas, em ambas as pesquisas realizadas, mostra uma tendência do mercado consumidor cujas vendas são dos produtos mais bem pesquisados, que se tornaram relativamente bem conhecido devido a cada vez mais serem objeto de estudos, divulgação científica e de pesquisas clínicas. Estes incluem os seguintes produtos, conforme observado por ordem de classificação para as vendas (Tabela 2): cranberry, Saw Palmetto, ginkgo, alho, echinacea, cardo de leite, black cohosh, ginseng asiática, chá verde, etc

Mudanças em 2010

A preocupação predominante em todo o mundo, em 2009, sobre possíveis pandemias relacionadas com infecções do vírus da gripe H1N1 foi provavelmente a principal causa para a mudança nas vendas de produtos naturais nos Estados Unidos em 2010 em relação ao mercado de 2009, apaziguando ou retirando as discussões publicas sobre o tema em 2010. Assim, os picos de vendas para produtos naturais que são percebidos como úteis para prevenir ou tratar sintomas de qualquer tipo de gripe com base no uso tradicional e / ou pesquisa moderna não ocorreu. O forte aumento das vendas em 2009 de produtos à base de echinacea e sabugueiro, por exemplo, não continuou em 2010 e estas duas plantas realmente experimentaram uma queda previsível das vendas diante da redução das preocupações com a epidemia de H1N1. Vendas de produtos contendo echinacea caíram 20,7% no mercado de MDF e 12,4% no canal de Produtos Naturais, enquanto as vendas de sabugueiro diminuíram de 49,5% em MDF e 12,4% no canal de Produtos Naturais (Tabelas 2 e 3).
Produtos contendo cânhamo apareceram pela primeira vez entre os 20 produtos mais vendidos, de acordo com a SPINS - com um potencial de manter essa tendência no futuro em outros canais. "Os produtos de cânhamo" aparecem agora na 18ª posição em vendas neste canal, com mais de US$ 4 milhões em vendas totais (Whole Foods Market não incluído), aumento de mais de 10% em relação a 2009. A popularidade crescente do cânhamo (parte não-psicoativa da Cannabis sativa, Cannabaceae) e seus benefícios nutricionais devido a presença de proteína alto peso molecular e de ácidos graxos ômega-3  colocou o óleo de cânhamo como um importante suplemento alimentar vendido em cápsulas de gelatina mole. Quando a crescente popularidade deste produto migrará para o principal canal de comercialização de produtos naturais ainda precisa ser determinado.
Como observado na tabela 5, as vendas calculadas para produtos fitoterápicos contendo uma única planta aumentaram 3,9% em 2010 em relação a 2009, de acordo com NBJ. Isso se compara a um maior aumento de 9,5% em 2009 em relação a 2008. As vendas de formulações de associação de plantas (normalmente comercializados para uma função específica, por exemplo, a manutenção de níveis normais de colesterol, níveis normais de açúcar no sangue, a saúde do trato urinário, etc) cresceu 2,1% em 2010 comparado a 2009, o primeiro aumento nas vendas de associações desde 2007.
Em suma, em 2010 o mercado de produtos naturais manteve o forte crescimento visto nos últimos anos, refletindo o interesse crescente dos consumidores nestes produtos e num estilo de vida mais saudável.


[1] Os EUA classificam fitoterápicos como suplementos alimentares, ou seja, estes produtos não são considerados medicamentos.
[2] General Nutrition Centers ou GNC é uma empresa focada na venda de produtos para a saúde e nutrição, incluindo vitaminas, suplementos minerais, produtos à base de plantas medicinais, dietéticos e energéticos.
[3] cadeia de supermercados de alimentos sediada em Austin, Texas, especializada na comercialização de "produtos naturais e orgânicos."