Pesquisa realizada em 1997 constatou que gestores das escolas médicas alemães eram favoráveis a inclusão da medicina alternativa e complementar (MAC) em seus currículos, no entanto, apenas a minoria das escolas havia incluído em seus currículos. Em novo estudo realizado em 2004, foram enviados questionários a 1017 diretores de escolas de medicina em três países de língua alemã (Alemanha, Áustria e Suíça), representando mais de 80% de todas as escolas médicas de língua alemã, para avaliar as atuais opiniões sobre a inclusão/integração da MAC nas escolas médicas e em que medida essa inclusão ocorreu.
Obteve-se 48% de resposta aos questionários (n = 487), onde 40% demonstraram uma resposta positiva sobre a MAC, 28% foram neutras ou indiferentes, enquanto 29% tinham uma opinião negativa e 3% não tinham opinião sobre o valor terapêutico da MAC. Houve diferença significativa entre os entrevistados alemães e suíços, os primeiros apresentaram 44% de pareceres favoráveis, enquanto os suíços tiveram somente 22% (p = 0,021). Em geral, a acupuntura (53%), a osteopatia (52%) e a naturopatia (38%) foram as categorias de MAC com maior aprovação. Naturopatia e fitoterapia (32% de aprovação) mostraram resposta positiva mais na Alemanha do que na Austria (p = 0,001 e 0,01, respectivamente). Para esse estudo, a naturopatia foi definida como qualquer método terapeutico baseado no vitalismo, excluindo a fitoterapia, a qual foi classificada à parte devido a sua importancia para a população, onde os alemães são consumidores habituais da fitoterapia aliada aos esforços da Comissão E alemã na fiscalização, avaliação e padronização dos fitoterapicos, tornando-a uma terapêutica com muito crédito na comunidade médica alemã. Homeopatia (20%) e medicina chinesa (19%) foram a MAC que apresentaram resultados menos positivos pelos entrevistados.
A maioria é favorável à integração da MAC nas escolas médicas, onde 85% é adepto da sua utilização em pesquisas, 84% recomenda a inclusão nos currículos e 60% favoráveis à introdução da MAC no atendimento clínico das escolas de medicina. Entretanto, apenas 34% disseram que a MAC havia sido introduzida em sua instituição (na pesquisa 19%, ensino, 18% e tratamento, 26%) sem diferenças significativas entre os países, embora os entrevistados tenham indicado os suíços como os que menos introduziram a MAC nas escolas médicas. Em ambas as pesquisas (1997 e 2004), independente da opinião particular sobre a MAC, os diretores das escolas médicas foram favoráveis ao ensino das mesmas.
Ao serem indagados sobre de que modo percebia a MAC, 74% dos entrevistados responderam que complementa o tratamento convencional, 34% a utiliza como tratamento alternativo/complementar, 29% mencionaram a possibilidade de redução dos efeitos colaterais do tratamento convencional e 28% percebia a MAC como um tratamento com placebo, sendo que os austríacos foram os que mais citaram essa opção. Pesquisados sobre os riscos da MAC, os austríacos foram os que mais mencionaram que estas podem atrasar ou dificultar o tratamento convencional (76%), enquanto os alemães e suíços entrevistados estavam mais preocupados (69%) com a má qualidade na formação profissional, motivo de preocupação para apenas 45% dos entrevistados austríacos. A maioria dos entrevistados respondeu que os ensaios clínicos, os estudos experimentais e as pesquisas sobre o efeito placebo são as pesquisas mais importantes para a MAC; eles avaliaram os projetos de pesquisas planejados especificamente para avaliar as MAC e os estudos de casos como "sem importância". Os alemães foram os mais receptivos aos estudos de caso e de projetos planejados especificamente para avaliar a MAC.
Esforços destinados a integrar/incluir a MAC nos currículos médicos difere entre os países pesquisados, bem como no mesmo país. Naturopatia e as bases da homeopatia são estabelecidas para serem abordados nas escolas médicas alemãs desde 2003. No entanto, os autores indicam que nem todas as escolas cumprem essa determinação e os resultados da pesquisa mostram que os diretores das escolas médicas têm uma "opinião ruim" sobre a homeopatia. Na Suíça, a MAC é ensinada em diferentes formatos nas escolas médicas, por exemplo, na Faculdade de Medicina de Berna e de Zurique, todas as palestras sobre a MAC e treinamentos práticos são opcionais. Na Áustria, algumas palestras são obrigatórias, mas o estágio é opcional. A abordagem do paciente de forma interdisciplinar é exigida pela escola de medicina de Viena, enquanto a de Graz somente oferece uma séria de palestras opcionais sobre homeopatia.
Estes resultados contrastam com os de um diagnóstico realizado em 1997, onde de um total de 125 escolas médicas dos EUA, 75 ofereciam algum tipo de educação em MAC. Diagnósticos realizados em outros países europeus, entretanto, tiveram resultados semelhantes, com 40-43% escolas médicas européias que oferecem alguma educação em MAC. Razões para a falta de progresso no ensino de MAC nas escolas médicas da Europa não são claras. Os autores, comparando a situação da Europa com a dos EUA, concluem que a integração bem sucedida da MAC em escolas de medicina exige financiamento adequado, esforço de cooperação, apoio institucional e conteúdo de MAC de forma a interagir em cursos já existentes. Segundo os autores desse estudo, essas condições ainda não existem nas escolas médicas de língua alemã.
Mariann Garner-Wizard
Brinkhaus B, Witt CM, Jena S, Bockelbrink A, Ortiz M, Willich SN. Integration of complementary and alternative medicine into medical schools in Austria, Germany and Switzerland – results of a cross-sectional study. Wien Med Wochenschr. November 16, 2010:1-12. doi:10.1007/s10354-010-0834-x.