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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Salgueiro (Salix sp.) e AAS: diferentes mecanismos de ação

Foi publicada por Vlachojannis e colaboradores uma carta aos editores do periódico PHYTOTHERAPY RESEARCH [Phytother. Res. 25: 1102–1104 (2011)], na qual discutem a eficácia da casca do Salgueiro (Salix sp.) em relação ao ácido acetil salicílico (AAS), conhecido comercial como Aspirina. Eles explicam que geralmente o salgueiro é usado como analgésico e antiinflamatório por causa da presença de AAS que é propalado como o principio ativo dessa planta ou ainda que ácido salicílico encontra-se na casca e folha desta planta. No entanto, isso não é verdade. Portanto, segundo os autores, pode-se concluir que o AAS quando usado puro (como na aspirina, por exemplo) atua de modo diferente da casca de salgueiro, fato este demostrado pelos diferentes perfis de eficácia e segurança destes produtos. Os dados mostrados por esses pesquisadores confirmam que não podemos dizer que o fitocomplexo atua da mesma que a substancia isolada.
Os autores mostram que a dose recomendada tradicionalmente é de cerca de 24g/dia, a qual pode conter até 1000mg de salicilina (principal substância presente na planta que após ser metabolizada gera o ácido salicilico) já que a casca apresenta aproximadamente 4% dessa substância. Entretanto, a dose recomendada para o extrato do salgueiro pela monografia da ESCOP (European Scientific Cooperative on Phytotherapy) é de 120-240 mg de salicina como analgésico. Contudo, os estudos clínicos mostram que essa dose apresenta apenas redução moderada da dor ou mesmo apresentam resultados duvidosos. Os autores informam que a experiência deles mostra que doses maiores do extrato de salgueiro são mais eficazes. O que explica esse fato é que a salicina é metabolizada em vários derivados e quando se administra uma dose de 240mg dessa substância a concentração de derivados é muito baixa. Além disso, outros constituintes da casca tais como polifenóis, podem ter um importante papel para os efeitos analgésico e antiinflamatório. Outra observação mostra que o perfil diferenciado da casca resulta em um baixo impacto na coagulação do sangue, indicando que o uso do salgueiro é seguro no tratamento pós-operatório.
Os autores relatam também que os constituintes presentes na casca do salgueiro inibem vários mediadores envolvidos nos processos inflamatórios e dolorosos. Outra vantagem é que a planta demonstra baixa irritação gástrica, o que sugere que a mesma tenha substancias gastroprotetoras. Entretanto, esse dado precisa ser mais investigado bem como são necessárias pesquisas para estudar possíveis interações, especialmente se doses mais elevadas de extrato da casca de salgueiro forem empregados. A partir de ensaios clínicos previamente realizados com
extratos da casca de salgueiro calcula-se uma incidência de cerca de 5% de efeitos adversos sendo a maioria leves. Porém há risco de vida para pacientes que apresentam reações anafiláticas em caso de histórico de alergia aos salicilatos.
Em suma, o que autores mostram é que apesar dos efeitos de ambos os produtos (extratos das cascas x AAS) serem os mesmos (analgésico e antiinflamatório), não apresentam mecanismos de ação identicos. Portanto, pesquisas como estas mostram que há a necessidade de avaliar melhor o uso tradicional tanto quanto a forma de uso quanto a dose recomendada, não sendo possível inferir o efeito de um fitoterápico a partir de uma substancia isolada uma vez que as várias substâncias presentes em uma planta atuam de forma sinérgica.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Comércio justo e solidário impulsiona cooperativa de ervas medicinais do Paraná



A inclusão produtiva da agricultura familiar, um dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria no meio rural, vai levar às gôndolas de supermercados ervas medicinais produzidas em sete municípios paranaenses que fazem parte do Território da Cidadania Paraná Centro (Turvo, Boa Ventura de São Roque, Guarapuava, Pitanga, Iretama, Santa Maria do Oeste e Campina do Simão). A produção é proveniente de 149 empreendimentos da agricultura familiar que fazem parte da Cooperativa de Produtos Agroecológicos, Artesanais e Florestais de Turvo (Coopaflora).
Nessas propriedades são cultivadas espécies como alcachofra, alfazema, camomila, carqueja, manjerona, menta, pata de vaca, alecrim, calêndula, capim limão, cavalinha, espinheira santa, melissa, poejo e funcho. Todos os produtos têm certificação orgânica, de forma a agregar valor em um nicho de mercado que só cresce e que, agora, terá uma ação concreta entre o Governo Federal e a iniciativa privada. A cooperativa tem capacidade para produzir 79 toneladas/ano de ervas medicinais a granel e outras 16 toneladas empacotadas.
A estratégia de comercialização de produtos diferenciados e de maior valor agregado foi viabilizada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que formalizou no final de julho deste ano, juntamente com o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), uma parceria com o Grupo Pão de Açúcar. A iniciativa é parte do Plano Brasil Sem Miséria, estratégia do Governo Federal para erradicar a pobreza extrema no País.
Por meio dessa parceria, a produção da Coopaflora vai ser comercializada em gôndolas personalizadas de 60 das 180 lojas do Grupo no País, por meio do programa Caras do Brasil, que adota princípios do comércio justo e solidário. Não há consignação ou cobrança de taxas de elaboração de cadastro e contrato. Se houver, justificadamente, problema com a entrega, os produtores não sofrem multas. Além disso, o pagamento é feito em dez dias úteis após a entrega dos produtos, com margem de lucro pré-definida.
O diretor de Relações Institucionais do Pão de Açúcar, Paulo Pompílio, explica que desde 2002 o Grupo busca alternativas para micro e pequenas empresas, ONGs e cooperativas para distribuição da produção. No caso do Programa Caras do Brasil, foram identificadas demandas específicas e crescentes por produtos diferenciados, como os orgânicos provenientes da agricultura familiar. “Os produtores tinham dificuldade para comercializar no varejo. Agora, estamos conseguindo mudar a realidade da população rural por meio da parceria com o MDA no Plano Brasil Sem Miséria”, diz o executivo.
Mulheres
A Coopaflora surgiu em janeiro de 2006 na Região Central do Paraná, no bioma Mata Atlântica, onde há predominância do ecossistema de floresta com araucárias. O município de Turvo, onde se concentra a maior parte dos cooperados, tem uma das maiores coberturas florestais de araucária no Sul do país. As atividades da cooperativa são resultantes do trabalho desenvolvido no Instituto Agroflorestal Bernardo Hakvoort (IAF), que leva o nome do missionário holandês que emigrou ao Brasil na década de 70 para realizar trabalho de organização social e produtiva junto a pequenos agricultores. A organização segue o princípio da produção familiar sustentável, por meio da comercialização justa e solidária de produtos orgânicos certificados, de forma a recuperar e conservar a Mata Atlântica.
A coordenadora do Instituto, Roseli Cordeiro, lembra que o trabalho com as ervas medicinais começou em meados de 2003, com a formação de comunidades de mulheres que, duas vezes por semana, realizavam atendimentos à população local com chás, pomadas e xaropes provenientes das plantas cultivadas nas propriedades. “O conhecimento sobre o uso das ervas medicinais foi transmitido de geração a geração entre as mulheres. No início, os homens não botavam muita fé na atividade, mas, com o passar do tempo, o que era uma atividade complementar foi se transformando na principal fonte de renda da família”, diz Roseli.
A coordenadora estima que, por volta de 10% dos produtores vinculados à Coopaflora tenham na produção de ervas a principal fonte de renda e destaca uma situação inusitada. “Os homens começaram a questionar de onde saía o dinheiro para a compra de produtos de beleza, roupa de cama, por exemplo. As mulheres haviam, enfim, conseguido ter uma fonte de renda extra somente com o cultivo das ervas”, diz, sem disfarçar a satisfação.
“Salvação”
A produção de ervas medicinais no entorno do município de Turvo está mudando a realidade das famílias de agricultores familiares da região. Descendente de ucranianos, a agricultora Silvia Maria Opuchkevitsek vive em uma propriedade de 9,6 hectares, na comunidade Lajeado, junto com o marido e duas filhas. Além do cultivo de feijão, milho, mandioca e batata e da criação de gado de corte, a família mantém uma plantação de ervas medicinais, como alcachofra, alecrim e calêndula. “Formamos um Clube de Mães na comunidade e trabalhávamos com crochê. No entanto, a comercialização era difícil e tivemos dificuldades para encontrar uma atividade rentável. As ervas foram a salvação para nós, depois que conhecemos o trabalho do IAF”, lembra.
Atualmente, somente com o plantio das ervas medicinais, Silvia consegue uma renda complementar mensal média de R$ 350,00. “No começo foi muito difícil, pois o trabalho com agricultura orgânica não é fácil. Mas fazendo parte da Coopaflora e tendo acompanhamento técnico, conseguimos superar as dificuldades. Fico feliz em fazer uma coisa que gosto e saber que estou produzindo algo saudável para as pessoas”, diz. Para a agricultora, fazer parte da cooperativa é como se estivesse em uma grande família e as perspectivas para o futuro são animadoras. “A parceria com um grupo tão grande como é o Pão de Açúcar foi um grande avanço para todos nós que precisamos ter acesso aos mercados consumidores”, completa.
Pronat
Com o início das atividades territoriais, em meados de 2007, a Coopaflora recebeu, por meio do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (Pronat), investimentos para aquisição de fornos e secadores para beneficiamento de folhas de pitanga, usadas como matéria-prima para a indústria de cosméticos, além de mobiliário e equipamentos de informática. O Pronat é uma ação da Secretaria de Desenvolvimento Territorial do MDA (SDT/MDA). Com o passar do tempo e a experiência das mulheres com o cultivo de ervas medicinais, as atividades foram se expandindo até o estágio atual, com diversificação da produção. “Hoje temos uma média de quatro a cinco espécies diferentes em cada empreendimento de agricultores familiares, com objetivo de diversificar a produção e diminuir a dependência de um só produto”, explica Roseli. Além disso, a Coopaflora criou um fundo para aquisição subsidiada de mudas, diminuindo o custo da produção de 30 a 40%.
Em 2010, o MDA, por meio da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), lançou uma Chamada de Projetos para a contratação de projetos na área de plantas medicinais e fitoterápicos. O IAF e a entidade Produtores Associados para Desenvolvimento de Tecnologias Sustentáveis (Sustentec) foram selecionadas para desenvolver, nos próximos 18 meses, ações voltadas para estruturar e fortalecer redes de negócios sustentáveis de plantas medicinais com foco no arranjo produtivo local e a promoção de geração de renda e agregação de valor, com apoio de professores da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O delegado federal do Desenvolvimento Agrário no Paraná, Reni Antonio Denardi, afirma que o exemplo da Cooperflora mostra o sucesso da estratégia do Governo Federal de estruturar a produção da agricultura familiar. “A região de Turvo tem grande tradição na produção agroecológica e essa parceria com o Grupo Pão de Açúcar, por meio do Plano Brasil Sem Miséria, será uma excelente porta de entrada, ao viabilizar a inclusão produtiva desses produtores rurais.”
http://www.mda.gov.br/portal/noticias/item?item_id=8540283
Fonte: 

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Diretoria de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu realizaram reunião para definir parceria


     A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Diretoria de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu realizaram nesta quarta-feira (17) uma reunião para definir uma parceria com a Itaipu para utilizar a metodologia do programa Cultivando Água Boa em outras regiões do País. O interesse da Fundação surgiu a partir de uma apresentação feita pelo gestor do programa Plantas Medicinais, Altevir Zardinello, realizada 27º Congresso do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), em julho.
    
Uma das atribuições da Fiocruz é contribuir com a difusão da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. “Identificamos aqui na Bacia do Paraná 3 uma plataforma tecnológica para o desenvolvimento de tecnologias sociais em torno do cultivo de fitoterápicos e queremos levar essa experiência para outras localidades”, afirmou o vice-presidente da Fiocruz, Valcler Rangel Fernandes.

A partir dessa reunião, ficou agendada uma nova reunião técnica, no próximo dia 31 de agosto, para elaboração de um projeto piloto, um workshop e convênio que deverá ser celebrado no próximo Encontro Anual do CAB. “São várias as ideias que poderão vir a ser concretizadas nessa parceria. Uma delas é trabalhar com um consórcio de municípios e implantar um selo de qualidade para os produtos da região”, completou Fernandes.     

A reunião também contou com a participação de representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Oscip Sustentec, que já são parceiros da Itaipu nas ações do CAB junto à agricultura familiar. “Nosso interesse é desenvolver novos mecanismos que aumentem a participação da agricultura familiar na política de plantas medicinais do governo federal , a exemplo do que já ocorre com a compra direta de alimentos orgânicos”, afirmou Daniela Vasconcelos, coordenadora técnica de Plantas Medicinais do MDA.

“E nosso interesse não se restringe apenas às plantas medicinais. O Cultivando Água Boa é um case de sucesso que queremos replicar junto a agricultores familiares de todo o Brasil”, completou Alberto Luiz Wanderley, consultor do MDA.


terça-feira, 19 de julho de 2011

Gengibre como Tratamento Adjuvante para Náuseas e Vômitos induzidos pela Quimioterapia em Jovens

por Amy C. Keller;  
HerbalGram 56 (2):234-238; Fevereiro de 2011; American Botanical Council


O gengibre (Zingiber officinale, Zingiberaceae raiz) é utilizado ao longo da história em todo o mundo para tratar doenças do estômago, incluindo náuseas1. Um efeito colateral comum e desagradável do tratamento do câncer são as náuseas e vômitos induzidas pela quimioterapia (NVIQ). Neste ensaio clínico, os pesquisadores avaliaram o pó da raiz de gengibre como coadjuvante ao tratamento com o antiemético ondansetron e dexametasona. Como já havia relato do sucesso do tratamento com gengibre para a NVIQ em adultos2, esse estudo resolveu avaliar o tratamento em crianças e adultos jovens.
A seleção dos pacientes para o estudo ocorreu na Dr. B.R. Ambedkar Institute Rotary Cancer Hospital of the All India Institute of Medical Sciences in New Delhi, India. Crianças e adultos jovens com idades entre 8-21 anos de idade e com peso corporal entre 20 e 60 Kg foram selecionados para este estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Os pacientes selecionados foram diagnosticados com sarcomas ósseos e submetidos à quimioterapia com os antineoplásicos cisplatina e doxorrubicina nas doses de 40 e 25 mg/m 2/dia, respectivamente, para um ciclo de 3 dias. Todos os pacientes também receberam como antieméticos ondansetron e dexametasona intravenosa a 4-8 mg / dia para os primeiros três dias de quimioterapia. Pacientes que estavam  sendo tratados com radioterapia ou o antiemético aprepitanto foram excluídos do estudo.
Os grupos foram randomizados e separados em grupos experimentais (gengibre) ou controle (amido), permitindo aos pacientes receber tratamento experimental ou controle, em qualquer ciclo da quimioterapia. Os tratamentos consistiram de cápsulas contendo o pó de raiz de gengibre (grupo tratado) ou pó de amido (grupo controle) (ambos fornecidos pela Tulsi Ayurvedics & Pvt Research. Ltd. em Varanasi, Índia). Os pacientes receberam as cápsulas referentes ao ciclo de quimioterapia (1-3 dias) e aqueles com peso entre 20 e 40 kg receberam uma dose total de 1.000 mg/dia na forma de 6 cápsulas de 167 mg de tratamento experimental ou controle, enquanto a dose de 2.000 mg/dia foi administrada para aqueles pacientes com peso entre 40-60 kg (5 cápsulas contendo 400 mg cada) referente ao tratamento experimental (gengibre) ou controle. Os pesquisadores mencionam que as cápsulas e doses foram bem toleradas pelos pacientes, e nenhum efeito adverso foi observado ou relatado.
Foi exigido que os pacientes fizessem um diário relatando a incidência e gravidade das náuseas e vômitos de acordo com a Escala de Avaliação do Sintoma Edmonton (ESAS) entre os dias 1-10 do ciclo da quimioterapia, onde a NVIQ aguda que ocorre nos dias 01-04 e a tardia a partir dos 5-10 dias do ciclo.
Trinta pacientes terminaram o estudo no grupo placebo-controle e 27 no grupo  experimental (gengibre). Três pacientes foram excluídos do grupo experimental por não aderir às exigências do estudo ou por não engolir as cápsulas. A partir de um escore de 0 para náuseas e vômitos em ambos os grupos, a náusea aguda ocorreu com maior frequência no grupo placebo (em 93,3%) dos ciclos de quimioterapia, em oposição a 55,6% dos ciclos do grupo de gengibre (P = 0,003). Vômitos de moderados a graves também foi reduzida no grupo de gengibre em 33,33%, em comparação com 76,7% no grupo placebo (P = 0,002). Náuseas de moderada a grave também foi significativamente menor no grupo de gengibre, ocorrendo em 25,9% dos ciclos, em comparação com 73,3% dos ciclos do grupo placebo (P <0,001).
Os autores concluem que o estudo demonstra que cápsulas de raiz de gengibre pode ser uma terapia adjuvante eficaz para o tratamento em pacientes com NVIQ associado ao ondansetron e a dexametasona. Eles também afirmam que o estudo determina uma dosagem eficaz de raiz de gengibre para crianças e adultos jovens. Os dados apresentados neste estudo apoiam fortemente essas conclusões.
Este estudo é simples, bem desenhado, e fornece dados consistentes apoiando o uso de cápsulas de gengibre no tratamento de NVIQ, no entanto, alguns pequenos problemas com o estudo são aparentes. Primeiro, não há detalhes sobre a preparação da cápsula gengibre ou a origem da planta de são fornecidos. Além disso, os autores não fazem nenhum esforço para controlar o sabor ou odor. Embora o material de teste seja encapsulado, a raiz de gengibre tem um aroma potente e sabor que pode ter sido detectada por determinados pacientes ou administradores.
Há uma falha adicional que os próprios autores mencionam, a randomização foi focada no ciclo da quimioterapia, não do paciente. Este procedimento pode permitir que o mesmo paciente pode receber tanto pó de raiz de gengibre e quanto o placebo durante os ciclos analisados ​​no estudo. Assim, os efeitos adversos não foram observados ou não apareceram, pois os pacientes podem não ter tomado as cápsulas raiz de gengibre por um tempo suficiente longo para os efeitos aparecerem. Além disso, nenhuma avaliação foi feita por um período em pacientes aleatoriamente fazendo o tratamento antes ou depois do placebo.
Apesar destas reservas, o estudo apoia fortemente o uso de raiz de gengibre no tratamento de NVIQ em pacientes com câncer, particularmente em crianças e adultos jovens. Esta pesquisa também abre as portas para futuros estudos em pacientes com câncer e variados tratamentos de quimioterapia e, especialmente, a longo prazo para a utilização de raiz de gengibre em pacientes com câncer.

Trabalho publicado abaixo:
Pillai AK, Sharma KK, Gupta YK, Bakhshi S. Anti-emetic effect of ginger powder versus placebo as an add-on therapy in children and young adults receiving high emetogenic chemotherapy. Pediatr Blood Cancer. February 2011;56(2):234-238.

Referencias
  1. Blumenthal M, Goldberg A, Brinckmann J, eds. Herbal Medicine: Expanded Commission E Monographs. Austin, TX: American Botanical Council; Newton, MA: Integrative Medicine Communications; 2000.
  2. 2.    Ryan J, Heckler C, Dakhil S, et al. Ginger for chemotherapy-related nausea in cancer patients: a URCC CCOP randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial of 644 cancer patients. J Clin Oncol. 2009;27(15S):9511.



terça-feira, 5 de julho de 2011

Painel sobre a Politica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterapicos (PNPMF)

Será realizado entre os dias 09 a 12 de julho, em Brasília, o XXVII Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e o VII Congresso Brasileiro de Saúde, Cultura de Paz e Não- Violência (http://congresso.conasems.org.br/).
A Fiocruz terá vários espaços para discutir as políticas de saúde junto aos gestores dos municípios e dos estados,  dos trabalhadores e dos usuários dos serviços públicos de todo o Brasil, além de troca de experiências para a melhoria e fortalecimento da gestão.
A Vice Presidencia de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS/Fiocruz) estará presente promovendo vários debates. Uma destas atividades será o painel organizado pela equipe que trabalha no projeto de apoio a gestão do Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Essa atividade é realizada em cooperação técnica com o Departamento de Assistência Farmaceutica do Ministério da Saúde (DAF/SCTIE/MS), responsável por coordenar a PNPMF.
Esse painel ocorrerá no dia 10/07 às 17 horas, intitulado, A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF): desafios e alternativas para políticas públicas no SUS combinando preservação da biodiversidade e o desenvolvimento social, que contará com a presença de representantes de departamentos e ministérios envolvidos com o tema, tais como Departamento de Atenção Básica (DAB/SAS/MS), onde fica a coordenação da Politica Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPIC), Departamento de Assistência Farmacêutica (DAF/SCTIE/MS), onde fica a secretaria executiva do PNPMF, além de representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o qual tem a importante atividade de fomentar a inclusão da agricultura familiar na cadeia produtiva de plantas medicinais de modo a promover trabalho, renda e inclusão social e da experiencia da Itaipu que já realizada projeto em plantas medicinais, servindo como modelo que pode ser re-aplicado a outras regiões do Brasil.
Dessa forma, um dos objetivos desse painel é o de propiciar a divulgação e a articulação de ações estratégicas para o fortalecimento da PNPMF no SUS.
Vale destacar o apoio do Conasems na realização dessa atividade, bem como a participação nos encontros promovidos para discutir essa política. Somente com abertura de espaços dessa natureza para o debate e a realização de projetos intersetoriais é que conseguiremos realizar atividades que garantam a articulação entre políticas públicas de saúde, ambiente e desenvolvimento econômico e social.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Medicina Alternativa e Complementar (MAC) nas escolas médicas da Áustria, da Alemanha e da Suíça

Pesquisa realizada em 1997 constatou que gestores das escolas médicas alemães eram favoráveis a inclusão da medicina alternativa e complementar (MAC) em seus currículos, no entanto, apenas a minoria das escolas havia incluído em seus currículos. Em novo estudo realizado em 2004, foram enviados questionários a 1017 diretores de escolas de medicina em três países de língua alemã (Alemanha, Áustria e Suíça), representando mais de 80% de todas as escolas médicas de língua alemã, para avaliar as atuais opiniões sobre a inclusão/integração da MAC nas escolas médicas e em que medida essa inclusão ocorreu.
Obteve-se 48% de resposta aos questionários (n = 487), onde 40% demonstraram uma resposta positiva sobre a MAC, 28% foram neutras ou indiferentes, enquanto 29% tinham uma opinião negativa e 3% não tinham opinião sobre o valor terapêutico da MAC. Houve diferença significativa entre os entrevistados alemães e suíços, os primeiros apresentaram 44% de pareceres favoráveis, enquanto os suíços tiveram somente 22% (p = 0,021). Em geral, a acupuntura (53%), a osteopatia (52%) e a naturopatia (38%) foram as categorias de MAC com maior aprovação. Naturopatia e fitoterapia (32% de aprovação) mostraram resposta positiva mais na Alemanha do que na Austria (p = 0,001 e 0,01, respectivamente). Para esse estudo, a naturopatia foi definida como qualquer método terapeutico baseado no vitalismo, excluindo a fitoterapia, a qual foi classificada à parte devido a sua importancia para a população, onde os alemães são consumidores habituais da fitoterapia aliada aos esforços da Comissão E alemã na fiscalização, avaliação e padronização dos fitoterapicos, tornando-a uma terapêutica com muito crédito na comunidade médica alemã. Homeopatia (20%) e medicina chinesa (19%) foram a MAC que apresentaram resultados menos positivos pelos entrevistados.
A maioria é favorável à integração da MAC nas escolas médicas, onde 85% é adepto da sua utilização em pesquisas, 84% recomenda a inclusão nos currículos e 60% favoráveis à introdução da MAC no atendimento clínico das escolas de medicina. Entretanto, apenas 34% disseram que a MAC havia sido introduzida em sua instituição (na pesquisa 19%, ensino, 18% e tratamento, 26%) sem diferenças significativas entre os países, embora os entrevistados tenham indicado os suíços como os que menos introduziram a MAC nas escolas médicas. Em ambas as pesquisas (1997 e 2004), independente da opinião particular sobre a MAC, os diretores das escolas médicas foram favoráveis ao ensino das mesmas.
Ao serem indagados sobre de que modo percebia a MAC, 74% dos entrevistados responderam que complementa o tratamento convencional, 34% a utiliza como tratamento alternativo/complementar, 29% mencionaram a possibilidade de redução dos efeitos colaterais do tratamento convencional e 28% percebia a MAC como um tratamento com placebo, sendo que os austríacos foram os que mais citaram essa opção. Pesquisados sobre os riscos da MAC, os austríacos foram os que mais mencionaram que estas podem atrasar ou dificultar o tratamento convencional (76%), enquanto os alemães e suíços entrevistados estavam mais preocupados (69%) com a má qualidade na formação profissional, motivo de preocupação para apenas 45% dos entrevistados austríacos. A maioria dos entrevistados respondeu que os ensaios clínicos, os estudos experimentais e as pesquisas sobre o efeito placebo são as pesquisas mais importantes para a MAC; eles avaliaram os projetos de pesquisas planejados especificamente para avaliar as MAC e os estudos de casos como "sem importância". Os alemães foram os mais receptivos aos estudos de caso e de projetos planejados especificamente para avaliar a MAC.
Esforços destinados a integrar/incluir a MAC nos currículos médicos difere entre os países pesquisados, bem como no mesmo país. Naturopatia e as bases da homeopatia são estabelecidas para serem abordados nas escolas médicas alemãs desde 2003. No entanto, os autores indicam que nem todas as escolas cumprem essa determinação e os resultados da pesquisa mostram que os diretores das escolas médicas têm uma "opinião ruim" sobre a homeopatia. Na Suíça, a MAC é ensinada em diferentes formatos nas escolas médicas, por exemplo, na Faculdade de Medicina de Berna e de Zurique, todas as palestras sobre a MAC e treinamentos práticos são opcionais. Na Áustria, algumas palestras são obrigatórias, mas o estágio é opcional. A abordagem do paciente de forma interdisciplinar é exigida pela escola de medicina de Viena, enquanto a de Graz somente oferece uma séria de palestras opcionais sobre homeopatia.
Estes resultados contrastam com os de um diagnóstico realizado em 1997, onde de um total de 125 escolas médicas dos EUA, 75 ofereciam algum tipo de educação em MAC. Diagnósticos realizados em outros países europeus, entretanto, tiveram resultados semelhantes, com 40-43% escolas médicas européias que oferecem alguma educação em MAC. Razões para a falta de progresso no ensino de MAC nas escolas médicas da Europa não são claras. Os autores, comparando a situação da Europa com a dos EUA, concluem que a integração bem sucedida da MAC em escolas de medicina exige financiamento adequado, esforço de cooperação, apoio institucional e conteúdo de MAC de forma a interagir em cursos já existentes. Segundo os autores desse estudo, essas condições ainda não existem nas escolas médicas de língua alemã.

Mariann Garner-Wizard


Brinkhaus B, Witt CM, Jena S, Bockelbrink A, Ortiz M, Willich SN. Integration of complementary and alternative medicine into medical schools in Austria, Germany and Switzerland – results of a cross-sectional study. Wien Med Wochenschr. November 16, 2010:1-12. doi:10.1007/s10354-010-0834-x.