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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Salgueiro (Salix sp.) e AAS: diferentes mecanismos de ação

Foi publicada por Vlachojannis e colaboradores uma carta aos editores do periódico PHYTOTHERAPY RESEARCH [Phytother. Res. 25: 1102–1104 (2011)], na qual discutem a eficácia da casca do Salgueiro (Salix sp.) em relação ao ácido acetil salicílico (AAS), conhecido comercial como Aspirina. Eles explicam que geralmente o salgueiro é usado como analgésico e antiinflamatório por causa da presença de AAS que é propalado como o principio ativo dessa planta ou ainda que ácido salicílico encontra-se na casca e folha desta planta. No entanto, isso não é verdade. Portanto, segundo os autores, pode-se concluir que o AAS quando usado puro (como na aspirina, por exemplo) atua de modo diferente da casca de salgueiro, fato este demostrado pelos diferentes perfis de eficácia e segurança destes produtos. Os dados mostrados por esses pesquisadores confirmam que não podemos dizer que o fitocomplexo atua da mesma que a substancia isolada.
Os autores mostram que a dose recomendada tradicionalmente é de cerca de 24g/dia, a qual pode conter até 1000mg de salicilina (principal substância presente na planta que após ser metabolizada gera o ácido salicilico) já que a casca apresenta aproximadamente 4% dessa substância. Entretanto, a dose recomendada para o extrato do salgueiro pela monografia da ESCOP (European Scientific Cooperative on Phytotherapy) é de 120-240 mg de salicina como analgésico. Contudo, os estudos clínicos mostram que essa dose apresenta apenas redução moderada da dor ou mesmo apresentam resultados duvidosos. Os autores informam que a experiência deles mostra que doses maiores do extrato de salgueiro são mais eficazes. O que explica esse fato é que a salicina é metabolizada em vários derivados e quando se administra uma dose de 240mg dessa substância a concentração de derivados é muito baixa. Além disso, outros constituintes da casca tais como polifenóis, podem ter um importante papel para os efeitos analgésico e antiinflamatório. Outra observação mostra que o perfil diferenciado da casca resulta em um baixo impacto na coagulação do sangue, indicando que o uso do salgueiro é seguro no tratamento pós-operatório.
Os autores relatam também que os constituintes presentes na casca do salgueiro inibem vários mediadores envolvidos nos processos inflamatórios e dolorosos. Outra vantagem é que a planta demonstra baixa irritação gástrica, o que sugere que a mesma tenha substancias gastroprotetoras. Entretanto, esse dado precisa ser mais investigado bem como são necessárias pesquisas para estudar possíveis interações, especialmente se doses mais elevadas de extrato da casca de salgueiro forem empregados. A partir de ensaios clínicos previamente realizados com
extratos da casca de salgueiro calcula-se uma incidência de cerca de 5% de efeitos adversos sendo a maioria leves. Porém há risco de vida para pacientes que apresentam reações anafiláticas em caso de histórico de alergia aos salicilatos.
Em suma, o que autores mostram é que apesar dos efeitos de ambos os produtos (extratos das cascas x AAS) serem os mesmos (analgésico e antiinflamatório), não apresentam mecanismos de ação identicos. Portanto, pesquisas como estas mostram que há a necessidade de avaliar melhor o uso tradicional tanto quanto a forma de uso quanto a dose recomendada, não sendo possível inferir o efeito de um fitoterápico a partir de uma substancia isolada uma vez que as várias substâncias presentes em uma planta atuam de forma sinérgica.

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